Sobre a série
A estreia de Os Quatro da Candelária marca a chegada de uma
narrativa dolorosa e, ao mesmo tempo, profundamente sensível sobre uma das
maiores tragédias sociais do Brasil. No dia 30 de outubro de 2024, a Netflix
lança essa série limitada que revisita as 36 horas que antecederam a noite de 23
de julho de 1993. Nesse dia, o Brasil foi abalado por um crime brutal em frente à Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro, onde três policiais
militares e um ex-PM abriram fogo contra um grupo de crianças e adolescentes em
situação de rua. Esse ataque resultou na morte de oito jovens, um episódio que
marcou para sempre a história do país e que, até hoje, desafia a nossa memória
e a nossa reflexão sobre a violência e as desigualdades sociais.
A série, com sensibilidade, aborda os eventos do ponto de vista de quatro
dessas crianças: Douglas (Samuel Silva), Sete (Patrick Congo), Jesus (Andrei
Marques) e Pipoca (Wendy Queiroz). Ao longo de uma narrativa que revela os
sonhos, medos e esperanças desses personagens, o espectador acompanha a rotina
desses jovens, mergulhando nos dias que antecederam a tragédia que interrompeu
as suas vidas. A série não apenas narra os fatos, mas resgata as identidades e
as personalidades dos jovens envolvidos, propondo um convite à empatia e ao
entendimento de uma realidade que muitas vezes é invisibilizada.
A Tragédia da Candelária: Memória de um Crime que Marcou o Brasil
O massacre da Candelária foi um marco na década de 1990, não só pelo ato
brutal de violência contra crianças e adolescentes, mas também pelo que ele
representa em termos de descaso social e violência institucional. Naquela noite
de julho, enquanto dormiam na calçada da igreja, um grupo de aproximadamente 40
jovens foi surpreendido por tiros disparados por policiais. Muitos conseguiram
fugir, mas oito deles não tiveram a mesma sorte, e seus nomes se somaram à
lista de vítimas do genocídio da juventude preta e pobre no Brasil.
Esse massacre rapidamente virou notícia nacional e internacional, não apenas
pela atrocidade do ato, mas pelo contexto em que ele ocorreu: esses jovens,
como tantas outras crianças e adolescentes no Brasil, estavam em situação de
vulnerabilidade extrema, buscando um pouco de segurança ao redor da igreja. A
repercussão do massacre levou à criação de movimentos e redes de proteção à
infância e à adolescência, mas a justiça para as vítimas ainda é uma questão em
aberto, com poucos dos responsáveis tendo enfrentado as consequências de seus
atos.
Humanizando a Narrativa: A Visão dos Protagonistas
Os Quatro da Candelária se destaca por trazer uma visão intimista
dos personagens, aproximando o público da perspectiva das próprias vítimas. A
série se concentra nas histórias de Douglas, Sete, Jesus e Pipoca, que, apesar
de sua condição, encontram maneiras de sonhar e planejar um futuro diferente.
Cada um desses personagens enfrenta uma luta pessoal e coletiva: o desejo de
ser visto, o medo da violência cotidiana e a esperança de uma vida com
dignidade.
Uma Reflexão Sobre a Realidade das Crianças em Situação de Rua
A série não se limita a reconstruir o passado; ela oferece uma crítica
contundente ao presente, ao trazer à tona as causas e as consequências de uma
violência que ainda afeta milhares de jovens em situação de rua. Por meio das
histórias de Douglas, Sete, Jesus e Pipoca, Os Quatro da Candelária
destaca questões de raça, classe e políticas públicas. A narrativa faz um
paralelo entre a vida dessas crianças e as realidades de muitas outras que
ainda enfrentam a pobreza, a violência policial e a falta de oportunidades.
Esse recorte narrativo dá um rosto humano a uma realidade frequentemente
estereotipada, convidando o espectador a repensar conceitos e a se sensibilizar
com uma história que é, ao mesmo tempo, particular e universal. A série
desperta uma série de questionamentos: Como estamos cuidando das nossas
crianças? Quais políticas estão em vigor para protegê-las? E, talvez o mais
importante, o que estamos fazendo para garantir que tragédias como a da
Candelária não se repitam?
A Importância da Série na Atualidade
O lançamento de Os Quatro da Candelária em 2024 carrega um peso
simbólico, já que o Brasil enfrenta questões relacionadas à violência
contra crianças e adolescentes, especialmente os que vivem nas periferias e em
situação de rua. A série se soma a outras produções que buscam dar visibilidade
à realidade da população marginalizada e à urgência de uma mudança estrutural.
A obra não se propõe a oferecer respostas prontas ou soluções mágicas, mas
sim a despertar uma reflexão coletiva. Em última análise, Os Quatro da
Candelária é um grito de alerta para todos nós. Ela nos lembra que esses jovens tinham sonhos e
esperanças, e que é nossa responsabilidade, como sociedade, assegurar que todas
as crianças e adolescentes possam viver com dignidade e segurança.
Imagem divulgação Netflix.
Percepção
Os Quatro da Candelária é uma obra que resgata a dignidade e a humanidade das vítimas, dando-lhes o protagonismo que lhes foi negado em vida. Ao longo de sua narrativa, a série convida o público a olhar para além dos estereótipos, a reconhecer a vulnerabilidade e a resistência dos jovens que enfrentam as piores adversidades com uma força admirável.
Em breve no Tramas Urbanas de Bishop artigo completo sobre percepções da série Os Quatro da Candelária.

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